2005, Volume 7 - Nº 1, Janeiro - Dezembro

Antecipação da experiência de parto: mudanças desenvolvimentais ao longo da gravidez

Alexandra Pacheco, Bárbara Figueiredo, Raquel Costa e Álvaro Pais

Este estudo foi desenvolvido com o intuito de: 1) conhecer o modo como durante a gravidez a mulher antecipa algumas dimensões relevantes da experiência de parto tais como: a) planeamento e preparação; b) expectativas quanto ao medo, confiança, controlo e intensidade da dor; c) preocupação com o bem-estar próprio e do bebé; d) suporte esperado por parte de pessoas significativas; e) antevisão dos cuidados maternos; 2) averiguar a presença de mudanças na antecipação do parto, em dois momentos sucessivos da gravidez (no 2º trimestre e no 3º trimestre); 3) identificar diferenças na antecipação da experiência de parto, atendendo a características sociais e demográficas das participantes.

A amostra é constituída por 163 grávidas primíparas, utentes da Maternidade Júlio Dinis (Porto), e foi seleccionada aleatoriamente, tendo em conta os seguintes critérios: saber ler e escrever, primiparidade, gestação entre as 20 e as 24 semanas. Entre a 20ª e a 24ª semanas de gravidez administrou-se a Parte Social e Demográfica da Versão Portuguesa da Contextual Assessment of the Maternity Experience (CAME, Bernazzani, Marks, Siddle, Asten, Bifulco, et al., 2003), composta por 45 questões abertas, focadas na recolha de dados sociais e demográficos relativos à grávida e ao companheiro, bem como história obstétrica e psicopatológica da utente. Em dois momentos sucessivos, entre a 20ª e a 24ª semanas de gestação (2º trimestre) e entre a 30ª e a 36ª semanas de gestação (3º trimestre) as participantes preencheram o Questionário de Antecipação do Parto (QAP, Costa, Figueiredo, Pacheco & Pais, in press), constituído por 58 questões de auto-relato relativas à antecipação da experiência de trabalho de parto, parto e pós- parto.

Os resultados indicam que no 2º trimestre a generalidade das grávidas planeia e antecipa suporte por parte de pessoas significativas no parto, tem uma visão positiva das suas competências maternas e está moderadamente preocupada com o bem-estar próprio e o do bebé.

A maioria antevê, contudo, uma experiência de parto dolorosa, as previsões dividem-se entre o medo, a confiança e o controlo. A comparação entre o 2º e o 3º trimestre de gravidez revela que, no 3º trimestre, a mãe está mais focada no parto, tem níveis superiores de planeamento e conhecimento acerca da situação, mas antecipa a experiência como mais dolorosa, assim como prevê menor confiança e controlo e, mais medo no parto, preocupa-se mais com possíveis consequências negativas no seu bem-estar e no do bebé. Simultaneamente podemos averiguar algumas características sociais e demográficas que resultam em maiores dificuldades para a mãe na adequada antecipação do parto, no 2º e 3º trimestres de gestação, tais como menor idade, baixo nível de escolaridade, profissões de reduzida qualificação, agregados familiares alargados ou no qual o companheiro esteja ausente.

Em conclusão, entre outros aspectos, este estudo dá conta de mudanças desenvolvimentais que ocorrem durante a gravidez e alerta para a necessidade de dedicar mais atenção à preparação para o parto, sobretudo junto de grávidas pertencentes a determinados estratos sociais e económicos, sugerindo ainda áreas relevantes para essa preparação.

Hyperprolactinemic amenorrhea – insights from a case cured during psychoanalysis

Graça Cardoso e Luís G. Sobrinho

Apesar de abundante evidência científica mostrando que a hiperprolactinémia depende frequentemente de factores psicossomáticos, existem poucos estudos nos quais os doentes afectados tenham sido alvo de tratamento psicanalítico. Os autores descrevem o caso de uma mulher jovem que apresentava comportamento bulímico, aumento de peso, amenorreia, galactorreia e hiperprolactinémia, desencadeados após a morte do pai e o abandono pelo namorado. O tratamento psicanalítico clássico foi seguido da remissão dos sintomas. Este caso contribui para a compreensão de vários aspectos: 1) a importância da ausência de uma verdadeira fase edipiana no desenvolvimento de algumas mulheres que mais tarde apresentam hiperprolactinémia; 2) os mecanismos através dos quais as perdas afectivas conduzem à activação de uma resposta neuroendócrina específica; 3) o papel crítico da cooperação entre o médico especialista e o psicanalista no tratamento de doentes com perturbações psicossomáticas.

Estudo da aceitação da incapacidade em doentes com insuficiência renal crónica: comparação de duas escalas

Gorete Martins, Susana Cunha e Rui Coelho

Objectivo: Analisar a relação entre duas Escalas de avaliação da aceitação da incapacidade (Escala de Aceitação da Doença de Felton – AIS e a Escala de Aceitação da Incapacidade de Linkowski – ADS) em adultos com insuficiência renal crónica em tratamento de hemodiálise. População e Métodos: A um total de 40 indivíduos que cumpriam os critérios de inclusão, a realizar tratamento em duas clínicas de hemodiálise, foram aplicadas, as duas Escalas de avaliação de aceitação da incapacidade. Resultados: Os resultados para a fiabilidade dos dados obtidos com cada Escala, nesta amostra, utilizando o alfa de Cronbach, foram os seguintes: 0,795 para a Escala de Felton (AIS) e 0,952 para a Escala de Linkowski (ADS). Os valores de alfa obtidos estão acima do valor considerado aceitável (0,7). A média total da aceitação da doença na população em estudo, avaliada pela Escala de Felton, é de 25,75, num intervalo esperado de 8 a 40. Na Escala de Linkowski, a média é de 186,64, num intervalo esperado de 50 a 300. Conclusões: Ambas as Escalas são semelhantes ou equivalentes a medir os conceitos de aceitação da doença e de aceitação de incapacidade, estando estes fortemente relacionados entre si.

Consulta de psicologia clínica no centro de saúde são joão: assegurar qualidade na perspectiva de gestão

Alberto Hespanhol, Graça Veiga e Miguel Ricou

Consulta de Psicologia Clínica no Centro de Saúde São João: Assegurar Qualidade na perspectiva de Gestão. Objectivos: Indagar a influência das Consultas de Psicologia Clínica no volume de trabalho dos Médicos de Família no Centro de Saúde São João (CSJJ). Material e Métodos: Um estudo do tipo observacional e descritivo foi realizado através da impressão das agendas electrónicas de todos os utentes do CSSJ que recorreram à Consulta de Psicologia no 1º Semestre de 2001 e de 2003. Nesses registos contamos o número de consultas directas de Medicina Geral e Familiar realizadas 6 meses antes e 6 meses após a 1ª consulta de Psicologia.

Resultados: O número médio de consultas directas de Medicina Geral e Familiar efectuadas 6 meses antes e 6 meses após a 1ª consulta de Psicologia foi no 1º semestre de 2001 respectivamente de 2,5 e de 2,2 consultas/utente, e no 1º semestre de 2003 respectivamente de 2,85 e de 2,09. Conclusões: Dois anos após a sua implementação, a Consulta de Psicologia Clínica no CSSJ parece ter diminuído o volume de trabalho dos Médicos de Família com os utentes inscritos nessas consultas.

Perturbação de ansiedade generalizada em cuidados de saúde primários: abordagem e tratamento

Sérgio Aires-Conçalves e Rui Coelho

Nos Cuidados de Saúde Primários os doentes recorrem frequentemente ao médico com um ou vários sintomas, como: précordialgia, palpitações, dispneia, dificuldade em engolir, suores nocturnos, tremores, náusea, cólicas intestinais, diarreia, obstipação, irregularidades menstruais, medo de morrer, calores, rubor, parestesias, frequência urinária, dores musculares, cefaleias, boca seca, insónia e depressão.

Existe frequentemente uma sobreposição entre as diferentes categorias diagnósticas nas perturbações de ansiedade. Por outro lado, verifica-se a comorbilidade com a depressão em algumas fases da doença; podendo, ainda, existir situações de ansiedade e depressão.

Dados epidemiológicos indicam que cerca de 10% dos Americanos têm ou tiveram ansiedade segundo os critérios definidos na DSM-IV. As perturbações de ansiedade podem afectar 12 a 22% dos utentes que procuram os Cuidados de Saúde Primários. A Perturbação de Ansiedade Generalizada (PAG) pode afectar entre 2 a 10,9% da população geral.

Outra dificuldade que se coloca na avaliação das perturbações de ansiedade é o da quantificação dos sintomas. Num estudo realizado nos E.U.A. foi aplicado um questionário (PRIMEMD) para quantificação da gravidade dos sintomas combinando a validade dos critérios da DSM-IV com a prudência que a quantificação de sintomas deve acarretar na abordagem da ansiedade e depressão.

O tratamento da Perturbação de Ansiedade Generalizada requer farmacoterapia, psicoterapia e uma atitude psicoeducativa do doente como nas restantes perturbações de ansiedade. A terapêutica farmacológica da ansiedade exige, frequentemente, a utilização de benzodiazepinas, buspirona e anti-depressivos. O tratamento instituído deverá durar pelo menos 12 meses. A remissão da depressão pressupõe o desaparecimento dos sintomas e a reabilitação psicossocial do doente.

Depression and interferon therapy in chronic hepatitis c patients: epidemiology, predictive factors and proposed etiopathogenic models

António Cruz Neves, Christopher Dickens and Miguel Xavier

Objective: Neuropsychiatric symptoms are commonly associated with chronic hepatitis C virus infection and its treatment. In particular, interferon, a primary component of treatment for chronic hepatitis C, has been strongly associated with depressive symptoms. The aim of this review of the literature was to evaluate the incidence of depression and related predictive factors in patients with hepatitis C on interferon alpha therapy and the proposed etiopathogenic models.

Method: A review of the literature was undertaken. Results: An increase in depression or in psychiatric disturbance in general during therapy with IFN alpha was found - reported rates of interferon alpha- induced Major Depressive Disorder have ranged from 10% to 44% across studies. It appears that the development of depression in chronic hepatitis C patients treated with IFN alpha may be dependent on both duration of treatment and dosage of IFN alpha. Regarding the ascertainment of predictive factors for depression, the findings are not conclusive and sometimes contradictory.

Conclusions: More studies are needed in order to clarify the possible links and associations between INF use and depression. Furthermore, research is needed so that patients with psychiatric problems are not excluded from effective treatments for this growing medical problem.

Oscilações do cortisol na depressão e sono/vigília

Eduardo Marinho Saraiva, J. M. Soares Fortunato e Cristina Gavina

O cortisol é uma hormona indispensável à vida e com um efeito multifacetado. É sintetizada nas glândulas supra- -renais; a sua produção aumenta significativamente em situações de Stress.

A depressão major é uma doença em que existe uma hipercortisolemia, responsável em parte pela sua génese. Este aumento dos níveis de cortisol vai provocar lesões no hipocampo e alterar o funcionamento dos receptores dos glicocorticóides (GRs), diminuindo a retroacção negativa exercida pelo cortisol e desregulando o eixo Hipotálamo-Hipófise-Supra- Renal (HPA), o que vai por sua vez criar uma hipercortisolemia.

Tanto o sono como o padrão de secreção do cortisol possuem um ritmo circadiano. O aumento dos níveis de cortisol tem um papel fundamental no acordar: o pico na secreção diária do cortisol ocorre por essa altura e os seus níveis mais baixos ocorrem ao início da noite. Os níveis de cortisol mantêm-se elevados nos indivíduos que dormem pouco, nos com sono leve e nos que sofrem de insónia. Existe uma interacção entre a secreção de cortisol e as diversas fases do sono, principalmente a rapid-eye-movement (REM). Um dos possíveis sintomas da depressão é a insónia, e a insónia é um factor de risco para a depressão. Verifica-se uma hiperactividade do eixo HPA em ambas as patologias.

A dor e o sofrimento: algumas reflexões a propósito da compreensão psicológica da fibromialgia

Eduardo Sá, Carolina Veiga, Sílvia Matela, Rita Morais, Raquel Silva, Ana Rita Seixas e Sofia Gonçalves

A fibromialgia constitui um conceito à procura de consensos. Este artigo pretende dar a conhecer esta condição clínica, bem como a multiplicidade de factores envolvidos na sua etiologia.

A auto-actualização como motivação para a aceitação da doença

Gorete Martins, Susana Cunha e Rui Coelho

Acontecimentos de vida, como a doença e o sofrimento inerente, poderão ser uma oportunidade e uma motivação para uma reorganização do sistema de valores, através da mobilização de aptidões e capacidades pessoais, com o suporte social disponível para procurar novas formas de relação com os outros. A auto-actualização é um estado de alcance pleno do potencial e da aptidão na resolução de problemas e lidar, de forma ajustada, com as situações que vão surgindo ao longo da vida.

Ajustamento psicológico de doentes com insuficiência respiratória crónica em ventilação mecânica domiciliária

Amadeu Martins, Ana I. Silva e Rui Nêveda

Os autores avaliaram o ajustamento psicológico de doentes com insuficiência respiratória crónica submetidos a Ventilação Mecânica Domiciliária e de profissionais de saúde (controlos), para caracterizar o possível impacto da doença respiratória na saúde mental destes doentes, e determinar se as doenças mais graves e os tratamentos mais limitativos acarretam maior psicopatologia. O ajustamento psicológico foi avaliado através do Inventário de Depressão de Beck II (BDI-II) e do Hopkins Symptom Distress Checklist-90-Revised (SCL-90- -R). Os doentes mais graves apresentaram pontuações significativamente superiores nas dimensões de “Somatização”, “Depressão”, e “Ansiedade fóbica” do SCL-90-R e no BDI--II. Os resultados são discutidos considerando a co-morbilidade psiquiátrica desta população clínica e as adaptações impostas pela doença crónica ao indivíduo e seus cuidadores, a par de factores protectores como um estilo activo de confronto e suporte social, os quais poderão favorecer o doente.

A influência da fisioterapia: reeducação uroginecológica na promoção de auto-estima em mulheres com incontinência urinária

Rui Viana, Sara Viana e Clarinda Festas

Durante os últimos anos tem havido um interesse crescente relativamente às consequências da Incontinência Urinária (IU) na Mulher, nomeadamente ao nível dos componentes psicossociais. Objectivo: Este estudo teve como objectivo investigar a relação dos níveis de auto-estima (AE) em Mulheres com IU que não realizaram Fisioterapia – Reeducação Uroginecológica (RUG) comparativamente com as que realizaram Fisioterapia – RUG.

Métodos: Efectuou-se um estudo comparativo a uma amostra de 113 Mulheres diagnosticadas com IU retiradas da população do departamento de Uroginecologia do Serviço de Medicina Física e Reabilitação do Hospital de São João, aplicando-se para o efeito o questionário “The Rosenberg Self-Esteem Scale” (RSES). Na análise estatística, foi utilizado o teste paramétrico teste-t para duas amostras independentes para comparação das médias.

Resultados: Verificou-se a existência de diferenças estatisticamente significativas, relativamente à AE, entre o grupo de Mulheres com IU que não realizaram Fisioterapia – RUG e o grupo de Mulheres que realizaram Fisioterapia – RUG.

Conclusões: Pode-se concluir que a Fisioterapia – RUG influencia favoravelmente a promoção de AE em Mulheres com IU. Os resultados apresentados são animadores no sentido de prosseguir nalguns aspectos também eles relevantes na investigação dos efeitos da Fisioterapia – RUG no nível intra e interpessoal da Mulher com IU.

Burnout e stress ocupacional

Alberto Hespanhol

Embora a palavra stress tenha geralmente uma conotação negativa, Selye sustenta que a reacção de stress não é automaticamente má, nem deve ser evitada, já que o estar vivo é sinónimo de resposta ao stress.

A abordagem contemporânea de stress adopta uma perspectiva interactiva. No modelo interactivo de stress é necessário considerar todos os três grandes domínios conceptuais: as potenciais causas de stress, os moderadores da resposta de stress e as manifestações de stress. As potenciais causas de stress, que existem ou não no ambiente laboral ou na ligação casa/trabalho, em conjunto com as características pessoais de cada indivíduo podem eventualmente conduzir aos sintomas ou às doenças relacionadas com o stress, o qual também pode ser prevenido ou reduzido. As consequências potencialmente negativas que podem advir de lidar inadequadamente com o stress podem-se repercutir a um nível físico, psicológico ou comportamental e causar custos tanto ao indivíduo, como às organizações e sociedade em geral. O stress ocupacional em extremo pode provocar o burnout, uma síndrome caracterizada por três diferentes componentes: exaustão emocional, despersonalização dos outros e ausência de realização pessoal.

Bases moleculares da tolerância aos opióides

Inês Nunes, Carla Santos e M. Soares Fortunato

Apesar dos opióides serem amplamente utilizados, de forma eficaz, no tratamento da dor, também causam intensa dependência.

Este trabalho foca as alterações adaptativas que ocorrem nas funções celular e sináptica, induzidas pelo tratamento crónico com opióides. Os passos iniciais da acção opióide são mediados pela activação de receptores acoplados a proteínas G. Os receptores opióides, tal como outros receptores acoplados a proteínas G, activam e regulam múltiplas vias de segundos mensageiros associadas ao acoplamento de efectores, ao tráfego de receptores e à sinalização nuclear. Estes mecanismos são críticos para a compreensão dos eventos iniciais que conduzem à tolerância e à dependência aos opióides.

A compreensão clara dos mecanismos moleculares da tolerância e dependência opióides ajudará a melhorar o tratamento de pacientes com dor aguda ou crónica, ou a recuperação de toxicodependentes.

Neuropsychological assessment using luria nebraska neuropsychological battery – its introduction in portugal results from an introductory first empirical portuguese study – 3 short case studies

Luis Maia, Manuel Loureiro, Carlos Silva , Assunção Pato, Marli Loureiro e Mª Victoria Bartolomé

Alexander Luria (1902-1977) was probably the greatest contributor to the development of contemporary Clinical Neuropsychology, which is based in the precise knowledge of functional neuroanatomy, as well as cerebral affection/dysfunction/lesions semiology. The possibility of using an accurate assessment model to assess cerebral malfunction related with a set of potentially localized cerebral areas has been developed in the last decades. One of the most utilized neuropsychological battery is the Luria Nebraska Neuropsychological Battery (LNNB) presented by Golden, Hammeke and Purisch in 1978. It is a comprehensive battery developed to assess neuropsychological functioning with a method that integrate qualitative information generated originally by Luria techniques with the quantitative methods of psychometric American School, resulting in a hybrid approach in which relevant elements of both traditions were considered. Results of three subjects are presented in order to elucidate different aspects of neuropsychological evaluation, in different clinical or normative population: one “Normal” subject, one patient referred by a general practitioner doctor and other patient referred by a neurologist doctor. The preliminary results suggest that the Portuguese adaptation of LNNB has a strong accuracy in differentiating normative and clinical population, and also that it can be used as a strong neurological screening test when utilized by a trained psychometrician. Finally is also suggested that, to elaborate a deep and integrative neuropsychological evaluation the neuropsychologist must have a strong background in neuropsychology, being aware of the patient’s premorbid characteristics and not only the current behaviour repertoire, in order to evaluate the global affection after a given traumatic, incisive, pathogenic, or other relevant process.

Bioética e psiquiatria: práticas conciliáveis?

Filipe Arantes-Gonçalves e Rui Coelho

Nem sempre é fácil conciliar a prática clínica psiquiátrica com a prática da Bioética. Nesse sentido, os autores deste artigo procuraram tecer breves considerações sobre a necessidade de uma prática integrada. Após esta curta introdução, várias temáticas comuns à Psiquiatria e à Bioética são, oportunamente, analisadas: competência em Saúde Mental na obtenção de consentimento informado, tratamento compulsivo, confidencialidade, investigação em Psiquiatria, psicoterapia e Psiquiatria Forense. Por último, é feita referência ao ensino da Bioética a futuros psiquiatras.

Autismo e psicologia clínica de abordagem dinâmica numa sala teacch: reflexões e partilha duma prática

Françoise Debelle dos Santos

O presente artigo tem por objectivo apresentar uma prática de psicologia clínica de inspiração psicodinâmica com crianças autistas numa Sala Teacch cujas bases teóricas são de orientação comportamentalista e cognitivista. Tentamos indicar as divergências e propomos alguns argumentos em favor da complementaridade entre as duas abordagens no seio duma equipa multidisciplinar. A questão da inclusão é brevemente evocada. Tentamos mostrar o papel específico do psicólogo clínico ao lado não só das crianças mas também das famílias das crianças autistas.

A importância da apoptose na esquizofrenia: mais um enigma?

Filipe Arantes-Gonçalves e J. Soares-Fortunato

A apoptose começa a ser estudada cada vez mais em relação à Psiquiatria e à Saúde Mental. Após terem realizado breves revisões sobre a apoptose e a neuropatologia da esquizofrenia, os autores procuram explicar de que forma é que existe uma associação entre apoptose e esquizofrenia através de situações tais como o neurodesenvolvimento, stress oxidativo, cancro e antipsicóticos. Na conclusão do artigo, os autores demarcam o seu ponto de vista sobre toda esta problemática.

A alexitimia e a hostilidade em doentes que sofreram enfarte agudo do miocárdio

Edite Amorim, Marina Guerra e Maria Júlia Maciel

Este estudo pretende avaliar a presença de alexitimia e hostilidade em doentes que sofreram enfarte agudo do miocárdio. A alexitimia tem sido reconhecida em pessoas saudáveis de idade avançada, bem como portadoras de várias doenças crónicas, nas quais o EAM se enquadra. Neste estudo foram recolhidos dados de 30 sujeitos com enfarte e 30 sem enfarte, ambos do sexo masculino. Foi utilizada a escala de Alexitimia de Toronto (TAS-20), a primeira parte do QAE-EN, um questionário de avaliação das emoções para a anorexia nervosa, o STAXI e um questionário de estilos de vida. Os resultados confirmam a relação entre enfarte e riscos associados ao estilo de vida e apontam para uma diferença que, apesar de não significativa, vai no sentido da confirmação da relação entre alexitimia e EAM. A hostilidade aparece relacionada com o enfarte, em particular a componente anger in, e as duas variáveis, alexitimia e hostilidade aparecem também relacionadas. Os resultados sugerem uma necessidade de actuar ao nível da expressão e modelagem de emoções em indivíduos saudáveis e doentes cardíacos.

Hipertensão arterial essencial: psicopatologia, avaliação e tratamento

Sandra C. Soares

O presente trabalho teve como propósito elaborar uma revisão crítica da literatura existente relativa à psicopatologia, avaliação e tratamento da hipertensão arterial essencial. Com base num modelo psicofisiológico que tem como intuito explicar a hipertensão arterial, foi analisada a relação entre diversos factores (genéticos, psicossociais, hemodinâmicos e facilitadores) e o consequente desenvolvimento do referido transtorno. De salientar que foi conferida especial atenção aos factores psicológicos concomitantes das manifestações orgânicas da hipertensão. Posteriormente, foram relatadas as formas de avaliação, os tratamentos mais comumente utilizados e a eficácia subjacente na redução dos níveis de pressão arterial elevados. A revisão de literatura efectuada no presente trabalho reflectiu a complexidade do transtorno e a consequente coexistência de diversas investigações que apontam para conclusões pouco convergentes, ou mesmo contraditórias.

Psicanálise e psicossomática – uma revisão

Luísa Branco Vicente

Com este artigo a autora pretende apresentar uma revisão dos conceitos actuais da psicossomática levando em linha de conta as contribuições contemporâneas de investigadores portugueses.

A Psicossomática e a Psicanálise encontram- se interligadas historicamente desde Sigmund Freud (1856-1939). Ainda que nunca tenha criado uma teoria psicossomática, Freud fundou muitos dos modelos psicossomáticos, tornando- se assim um dos seus mais importantes precursores. Contudo, a origem e o momento em que se desencadeiam as perturbações somáticas são ainda controversos. Neste sentido a autora defende que devemos, por isso, mais correctamente falar, não em modelo único, mas em vários modelos psicanalíticos.