Volume 7 - Nº 1
- Instruções aos autores
- Antecipação da experiência de parto: mudanças desenvolvimentais ao longo da gravidez
- Hyperprolactinemic amenorrhea – insights from a case cured during psychoanalysis
- Estudo da aceitação da incapacidade em doentes com insuficiência renal crónica: comparação de duas escalas
- Consulta de psicologia clínica no centro de saúde são joão: assegurar qualidade na perspectiva de gestão
- Perturbação de ansiedade generalizada em cuidados de saúde primários: abordagem e tratamento
- Depression and interferon therapy in chronic hepatitis c patients: epidemiology, predictive factors and proposed etiopathogenic models
- Oscilações do cortisol na depressão e sono/vigília
- A dor e o sofrimento: algumas reflexões a propósito da compreensão psicológica da fibromialgia
- A auto-actualização como motivação para a aceitação da doença
- Ajustamento psicológico de doentes com insuficiência respiratória crónica em ventilação mecânica domiciliária
- A influência da fisioterapia: reeducação uroginecológica na promoção de auto-estima em mulheres com incontinência urinária
- Burnout e stress ocupacional
- Bases moleculares da tolerância aos opióides
- Neuropsychological assessment using luria nebraska neuropsychological battery – its introduction in portugal results from an introductory first empirical portuguese study – 3 short case studies
- Bioética e psiquiatria: práticas conciliáveis?
- Autismo e psicologia clínica de abordagem dinâmica numa sala teacch: reflexões e partilha duma prática
- A importância da apoptose na esquizofrenia: mais um enigma?
- A alexitimia e a hostilidade em doentes que sofreram enfarte agudo do miocárdio
- Hipertensão arterial essencial: psicopatologia, avaliação e tratamento
- Psicanálise e psicossomática – uma revisão
- Publicações recebidas na redacção
- Reuniões científicas calendário
Antecipação da experiência de parto: mudanças desenvolvimentais ao longo da gravidez
Alexandra Pacheco, Bárbara Figueiredo, Raquel Costa e Álvaro Pais
Este estudo foi desenvolvido com o intuito de: 1) conhecer o modo como durante a gravidez a mulher antecipa algumas dimensões relevantes da experiência de parto tais como: a) planeamento e preparação; b) expectativas quanto ao medo, confiança, controlo e intensidade da dor; c) preocupação com o bem-estar próprio e do bebé; d) suporte esperado por parte de pessoas significativas; e) antevisão dos cuidados maternos; 2) averiguar a presença de mudanças na antecipação do parto, em dois momentos sucessivos da gravidez (no 2º trimestre e no 3º trimestre); 3) identificar diferenças na antecipação da experiência de parto, atendendo a características sociais e demográficas das participantes.
A amostra é constituída por 163 grávidas primíparas, utentes da Maternidade Júlio Dinis (Porto), e foi seleccionada aleatoriamente, tendo em conta os seguintes critérios: saber ler e escrever, primiparidade, gestação entre as 20 e as 24 semanas. Entre a 20ª e a 24ª semanas de gravidez administrou-se a Parte Social e Demográfica da Versão Portuguesa da Contextual Assessment of the Maternity Experience (CAME, Bernazzani, Marks, Siddle, Asten, Bifulco, et al., 2003), composta por 45 questões abertas, focadas na recolha de dados sociais e demográficos relativos à grávida e ao companheiro, bem como história obstétrica e psicopatológica da utente. Em dois momentos sucessivos, entre a 20ª e a 24ª semanas de gestação (2º trimestre) e entre a 30ª e a 36ª semanas de gestação (3º trimestre) as participantes preencheram o Questionário de Antecipação do Parto (QAP, Costa, Figueiredo, Pacheco & Pais, in press), constituído por 58 questões de auto-relato relativas à antecipação da experiência de trabalho de parto, parto e pós- parto.
Os resultados indicam que no 2º trimestre a generalidade das grávidas planeia e antecipa suporte por parte de pessoas significativas no parto, tem uma visão positiva das suas competências maternas e está moderadamente preocupada com o bem-estar próprio e o do bebé.
A maioria antevê, contudo, uma experiência de parto dolorosa, as previsões dividem-se entre o medo, a confiança e o controlo. A comparação entre o 2º e o 3º trimestre de gravidez revela que, no 3º trimestre, a mãe está mais focada no parto, tem níveis superiores de planeamento e conhecimento acerca da situação, mas antecipa a experiência como mais dolorosa, assim como prevê menor confiança e controlo e, mais medo no parto, preocupa-se mais com possíveis consequências negativas no seu bem-estar e no do bebé. Simultaneamente podemos averiguar algumas características sociais e demográficas que resultam em maiores dificuldades para a mãe na adequada antecipação do parto, no 2º e 3º trimestres de gestação, tais como menor idade, baixo nível de escolaridade, profissões de reduzida qualificação, agregados familiares alargados ou no qual o companheiro esteja ausente.
Em conclusão, entre outros aspectos, este estudo dá conta de mudanças desenvolvimentais que ocorrem durante a gravidez e alerta para a necessidade de dedicar mais atenção à preparação para o parto, sobretudo junto de grávidas pertencentes a determinados estratos sociais e económicos, sugerindo ainda áreas relevantes para essa preparação.
