2000, Volume 2 - Nº 2, Julho - Dezembro

Editorial

Rui Coelho

Complexo psicossomático e psicoterapia relacional

Maria Rita Mendes Leal

A forma tradicional de justificar a aventura de iniciar uma psicoterapia analítica, desde Freud, assentava num diagnóstico diferencial para avaliar as estruturas neuróticas da personalidade, excluindo as (ao tempo) chamadas "neuroses narcísicas".

Ainda hoje se afirma que, nestes casos, seria muito mais seguro para o psicólogo deixar aos médicos o papel de aliviarem o queixoso ou, então, enveredar pelas psicoterapias ditas comportamentais, ou cognitivo-comportamentais, em que o projecto respeita a aliviar sintomas pontuais e bem delimitados -– escolhidos apenas porque restritivos de uma vida adaptada às realidades sociais.

Afirmam outros que as psicoterapias de orientação analítica mantêm indicação clara na busca humana de procurar um sentido à vida, o que depende da regulação dos equilíbrios emocionais face à própria realidade.

Neurologistas como por exemplo Bruce McEwan (1999), Joseph Le Doux (1989; 1999) e António Damásio (1994) estão cada vez mais interessados em estudar as emoções humanas implícitas e admitem que é nesse terreno que se situa a psicoterapia de orientação psicanalítica. Surge, assim, o direito (e o dever) de analisar a indeterminação do presente, as expectativas que o transcendem, e as hesitações das escolhas e de encarar os problemas e perplexidades da saúde psicossomática e não só da doença psicossomática – e tudo isto sem perder os importantes ensinamentos da prática psicanalítica e o respeito pelas forças e os meandros do inconsciente que gerações de psicanalistas delimitaram.

Memória para acontecimentos emocionais: Contributos da psicologia cognitiva experimental

Pedro Barbas de Albuquerque e Jorge Almeida Santos

Este artigo procura caracterizar a relação entre emoção e memória através do enfoque da psicologia cognitiva experimental. Assim, procuramos clarificar três tipologias de investigação experimental que têm servido de base ao conhecimento da influência da emoção na capacidade de codificação, armazenamento e recuperação da informação: (1) os estudos de memória dependente da emoção que ocorre quando um estado emocional presente desperta recordações vividas sob o mesmo tipo de humor; (2) os estudos de memória congruente que ocorrem quando, pelo facto de estarmos a viver uma determinada experiência emocional nos recordamos de informações congruentes com esse estado; (3) os estudos de memória para conteúdos fortemente emocionais que põem a tónica no facto de determinados estímulos poderem ser mais facilmente recordados do que outros devido á sua intensidade e valência.

Autismo: O processo do significado como conceito central

Edgar de Gonçalves Pereira

Este artigo fornece uma visão compreensiva sobre o conceito de autismo e sugere a possibilidade de um melhor entendimento do mesmo usando o construto de "operantes semânticos"; o leque dos comportamentos difíceis das pessoas com autismo podem a partir daí ser melhor entendidos como "comunicação" com uma organização disfuncional do significado dos estímulos.

O objectivo fundamental do artigo é compreender na sua essência o "mundo do autismo", encorajando os educadores e pais a procurarem ajuda tão cedo quanto possível para se atingir um melhor prognóstico.

Revisitando a Darwin: Filogenia de las emociones

Waldemar Zusman

O autor reflecte sobre a influência da Teoria Evolucionista de Darwin no trabalho de Freud, na compreensão da vida afectiva do ser humano e no desenvolvimento da Psicanálise.

Stress – Respostas fisiológicas e fisiopatológicas

Marta L. Tavares, José M. Soares-Fortunato e Adelino F. Leite-Moreira

O stress e as suas manifestações têm vindo a receber uma atenção cada vez maior pela morbilidade e mortalidade a que são associados. Conhecer os seus mecanismos é o primeiro passo para o estabelecimento de condutas terapêuticas eficazes e para delinear as estratégias de investigação no futuro.

Neste artigo pretendemos abordar de forma global e integrada, mas ao mesmo tempo clara, os diversos mecanismos fisiológicos e moleculares relacionados de forma directa ou indirecta com o stress, esclarecendo conceitos antigos e revendo os conhecimentos mais contemporâneos sobre o assunto.

Affect, somatization, symbolization and the analytic situation

Plínio Montagna

O autor parte de material clínico de análise de um paciente portador de queratocone para discutir factores da técnica analítica favorecedoras de movimento no sentido da mentalização e da simbolização, como por exemplo, a condição de reverie. A mentalização instalar- -se-ia no princípio através da aquisição de formas primitivas de consciência, tendo como modo básico de expressão a emoção e os sentimentos, que operam como forma de compreensão da realidade. A consciência afectiva inicialmente é configurada por formas simbólicas não discursivas, não havendo distinção clara entre o signo e o conteúdo de seu significado.

O refazer do elo entre emoção e representação, a partir do paciente se sentir "falado por outrem", propiciará a instalação de um tecido conectivo a funcionar como ponte, que permite a criação do símbolo onde prevalecia a somatização.

A short history of psychoanalytic psychosomatics in German- -speaking countries

Peter Kutter

The author discusses the development of psychoanalytic psychosomatics in German- speaking countries from a historical and cultural perspective. Influenced by a broad European background and characterised by occidental philosophy and the literary epoch of Romanticism the author traces its roman basis to the work of Sigmund Freud.

Psicosomática: Anatomía y metáfora

Jorge C. Ulnik

In this paper the author begins by exposing the differences in settings required for the treatments of neurotic and psychosomatic patients’. He then proposes a technical sequence in order to make psychosomatic patients’ analysis possible: first, the "confession"; then, the construction; and finally, the interpretation. In this sequence, the anatomy undergoes a process by which it becomes a metaphor, and the body pain and symptoms can come into the language area and become part of a story; thus starting the process of elaboration.

Gravidez adolescente, maternidade adolescente e bebés adolescentes: Causas, consequências, intervenção preventiva e não só

João Justo

Neste artigo empreende-se uma discussão sistemática acerca da gravidez na adolescência, das suas causas e das suas consequências. Entre outras, são apontadas as circunstâncias psicológicas, psicossociais e familiares que parecem favorecer o aparecimento da gravidez durante a adolescência. Além disso, são referidas as características da interacção precoce que ocorre entre a mãe adolescente e o seu bebé. São também discutidos diversos exemplos de intervenção. Entre estes, destacam-se os que visam uma diminuição da frequência de gravidezes na adolescência, assim como aqueles que buscam uma melhoria interactiva entre as mães adolescentes e os seus bebés. Finalmente, é discutida a pertinência da prevenção nos vários âmbitos psicossociais em causa.

Factores psicossociais de risco na doença das artérias coronárias: Revisão crítica da literatura

Miguel Trigo, Evangelista C. Rocha e Rui Coelho

Neste trabalho os autores fazem uma revisão crítica da literatura sobre os factores psicossociais de risco, associados à doença das artérias coronárias (DAC). Com este objectivo, começam-se por apresentar as principais teorias relacionadas com os mecanismos subjacentes à génese da aterosclerose (teoria inflamatória, trombolítica e lipídica) e, por inerência, dos principais mecanismos que levam à eclosão da DAC. Em seguida, introduz- -se o conceito de factor de risco e referem- -se os principais estudos epidemiológicos, desenvolvidos na área da Psicocardiologia (Western Collaborative Group Study, o Multiple Risk Factor Intervention Trial, o Review Panel on Coronary-Prone Behavior and Coronary Heart Disease e o Framingham Heart Study). Finalmente, são revistos sistematicamente os trabalhos e as investigações, em que se relacionam os factores psicossociais de risco com a DAC (stress, coping, padrão de comportamento tipo A, hostilidade, ira, depressão, suporte social e alcoolismo).

Recensão de Livros

Ramiro Veríssimo

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