Complexo psicossomático e psicoterapia relacional

Maria Rita Mendes Leal

A forma tradicional de justificar a aventura de iniciar uma psicoterapia analítica, desde Freud, assentava num diagnóstico diferencial para avaliar as estruturas neuróticas da personalidade, excluindo as (ao tempo) chamadas "neuroses narcísicas".

Ainda hoje se afirma que, nestes casos, seria muito mais seguro para o psicólogo deixar aos médicos o papel de aliviarem o queixoso ou, então, enveredar pelas psicoterapias ditas comportamentais, ou cognitivo-comportamentais, em que o projecto respeita a aliviar sintomas pontuais e bem delimitados -– escolhidos apenas porque restritivos de uma vida adaptada às realidades sociais.

Afirmam outros que as psicoterapias de orientação analítica mantêm indicação clara na busca humana de procurar um sentido à vida, o que depende da regulação dos equilíbrios emocionais face à própria realidade.

Neurologistas como por exemplo Bruce McEwan (1999), Joseph Le Doux (1989; 1999) e António Damásio (1994) estão cada vez mais interessados em estudar as emoções humanas implícitas e admitem que é nesse terreno que se situa a psicoterapia de orientação psicanalítica. Surge, assim, o direito (e o dever) de analisar a indeterminação do presente, as expectativas que o transcendem, e as hesitações das escolhas e de encarar os problemas e perplexidades da saúde psicossomática e não só da doença psicossomática – e tudo isto sem perder os importantes ensinamentos da prática psicanalítica e o respeito pelas forças e os meandros do inconsciente que gerações de psicanalistas delimitaram.

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