Rui F. Cordeiro Bergantim, Miguel Guerra, J. Soares Fortunato
O estudo do sono tem-se tornado cada vez mais aliciante. Talvez devido à sua vitalidade e importância fisiológica, talvez devido à complexidade e mistério que desencadeia. O sono não é um processo linear e num ciclo sono/ /vigília, identificamos dois tipos de sono – o REM (Rapid Eye Movement Sleep) e nREM (Slow Wave Sleep). Cerca de 20% desse ciclo é passado em sono REM, também chamado de Dessincronizado, Paradoxal, Onda Rápida, Activo, D (reaming). Todas estas designações derivam das suas características mensuráveis através de registos tão diversos quanto o electroencefalograma (EEG), electromiograma (EMG) e electrooculograma (EOG). O sono REM vai ter um impacto muito grande noutras funções fisiológicas, destacando- se o aumento da actividade parassimpática e diminuição do simpático, a atonia dos músculos posturais, a diminuição dos reflexos musculares e respiratórios, ausência da regulação da respiração entre tantas outras. A sua génese, envolvida em muita discussão, assenta sobre o ARAS e na interacção de um conjunto de neurotransmissores cuja excitação/ /inibição condiciona a indução do sono REM. Assim, a serotonina e noradrenalina inibem o sono REM enquanto a acetilcolina, GABA e glutamato o promovem. Sendo a idade, a par da homeostasia e circadianismo, um dos principais factores que actuam sobre o sono REM torna-se fulcral o seu estudo numa perspectiva ontogénica. Os recém-nascidos passam quase 60% de sono em estado REM, diminuindo esse valor para cerca dos 20% que assim se manterá até à velhice. Por outro lado, as crianças apresentam períodos de latência muito pequenos que vão aumentar com a idade e se verificam com maior expressão durante a madrugada. O número de despertares aumenta nesta mesma proporção e ocorre com maior incidência no sono REM. Até à velhice, muitas são as características que se alteram verificando-se a sua deterioração progressiva. Curiosamente e acompanhando essas modificações, aspectos tão simples como a posição em que o indivíduo dorme ou tão complexos como os processos de memória e sonho mostram ser ângulos polarizadores da interacção entre idade e sono REM. Assim, torna-se urgente aprofundar o estudo do sono REM pelo que cada vez mais ele assume um papel de destaque na neurofisiologia e na medicina. O sono REM... não é apenas um estado de um cérebro em repouso...