2001, Volume 3 - Nº 2, Julho - Dezembro

Editorial

Rui Coelho

O corpo sabe…

Jaime Milheiro

No prosseguimento dos seus conceitos sobre "Facto Psicossomático" e "Psicossomática Estrutural", o autor supõe a existência dum "Saber do Corpo", inscrito filogeneticamente, ontogeneticamente e individualmente. Saber mal conhecido por agora, apenas vislumbrado e não estudado ainda, que funcionará, sobretudo, regulado e regulador do binómio prazer/ /sofrimento. Existirá em todos os seres vivos, de qualquer dimensão. Ter-se-á progressivamente desenvolvido na evolução das espécies e particularmente dimensionado no ser humano. Não se tratará dum saber mental nem racionalizável. Será um saber intrínseco, estruturante da identidade, sexualizado vitalmente, fundamental na Saúde e na Doença, determinador do conceito: "…A identidade é uma identidade corporal…"

Alexitimia

Natália Fernandes, Rosa Tomé

A alexitimia (sem palavras para as emoções) é um conceito introduzido por Sifneos em 1967 e pode ser descrito como um distúrbio cognitivo e afectivo caracterizado pela dificuldade em diferenciar os sentimentos e expressá-los em palavras.

Foi inicialmente descrita em doentes psicossomáticos, mas actualmente sabe- -se que não é exclusiva destes doentes aparecendo características alexitímicas em inúmeras patologias. São numerosos os estudos sobre este conceito continuando a existir múltiplas questões sem resposta.

Os autores, num trabalho de revisão bibliográfica, revêem o conceito, a etiologia e as manifestações clínicas. Fazem também referência aos instrumentos de avaliação da alexitimia e algumas considerações sobre a abordagem terapêutica.

El conflicto básico de la psicosomatosis y sus implicaciones terapéuticas

Peter Kutter

O autor começa por definir as chamadas "psicossomatoses" segundo diversas perspectivas: clínica, psicodinâmica, psicogenética e sociogenética.

De seguida, apresenta e desenvolve o conceito de "conflito básico", que o autor acredita estar na origem da perturbação psicossomática.

Posteriormnete, reflecte sobre o carácter psicossomático, o sintoma psicossomática e a questão da especificidade das relações objectais. Finalmente, o autor analisa as implicações terapêuticas.

Dépression et somatisation

Jacques Gorot

O autor faz uma revisão geral dos conceitos inerentes ao estudo da depressão, incluindo a sua classificação e critérios de diagnóstico.

São analisados os trabalhos de vários autores sobre este tema, cujos resultados permitem ter uma visão mais clara sobre os processos (internos e externos, psico- -afectivos e fisiológicos) que fazem parte integrante da síndrome depressiva e conduzem à somatização.

Refere-se, ainda, às últimas descobertas acerca da reacção do sistema imunológico relativamente aos estados depressivos.

Dor: a hidra de sete cabeças

Vera Araújo-Soares, Margarida Figueiredo, Equipa de Dor

O artigo aqui apresentado pretende dar uma panorâmica da diversidade das situações dolorosas apresentadas pelos utentes de uma consulta de dor. Apresenta-se uma lista das patologias que causam dor, distinguem- se diferentes tipos de dor e identificam- se factores de agravamento e recuperação.

Casos de dor aguda e dor crónica são diariamente atendidos por esta equipa. Os casos de dor crónica, pelos maiores custos em termos pessoais, familiares e sociais que acarretam e pela maior prevalência de factores psicossociais associados à manutenção desta condição, são mais exigentes na abordagem diagnóstica e na proposta de medidas terapêuticas.

Doentes psicossomáticos: considerações terapêuticas a propósito de dois casos

Cristina Fabião

A autora refere a dificuldade no acesso à função simbólica presente nos doentes psicossomáticos. Em períodos de agudização da doença, há doentes que se movem num universo de comunicação em que não interpretam símbolos, mas comunicam por sinais. Este facto pode ser importante na condução destes pacientes muito mais para os procedimentos estandardizados do Hospital Geral do que para aqueles tratamentos que visem ajudar o paciente na capacidade de ligar o seu sofrimento a material psíquico.

Apresenta dois casos em fase de agudização da doença (o primeiro com vómitos e o segundo com dores articulares entre outros sintomas) e mostra a importância da rêverie no início da relação terapêutica.

Personalidade e narrativa: hipertensão e asma – um estudo comparativo

Maria da Graça Pereira e Ângela Maia

A presente investigação tem como objectivo estudar características da personalidade e de diferenciação do Eu em indivíduos diagnosticados com Hipertensão e Asma comparativamente a um grupo controlo utilizando uma metodologia qualitativa e quantitativa. O estudo foi dividido em três fases. Num primeiro momento todos os sujeitos responderam a um inventário de personalidade, bem como a um questionário de diferenciação individual. Numa segunda fase, foi solicitado aos sujeitos hipertensos e asmáticos que relatassem uma história sobre uma experiência do corpo. Estas narrativas foram depois analisadas, resultando numa narrativa protótipo para cada grupo. Na terceira fase, os dados resultantes das análises quantitativa e qualitativa foram comparadas. Os resultados e implicações para a intervenção, são apresentados e discutidos salientando a relevância do uso de diferentes metodologias na investigação em psicologia da saúde.

Comportamentos de saúde em estudantes que frequentam licenciaturas no âmbito das ciências da saúde

Maria do Rosário Dias, Ana Cristina Costa, Paula Manuel, Ana Cristina Neves, Manuel Geada, João Miranda Justo

O objectivo deste estudo é averiguar em que medida se modificam os comportamentos de saúde de estudantes de licenciaturas no âmbito das ciências da saúde, à medida que progridem no plano de estudos das suas licenciaturas e aumenta a sua informação sobre promoção da saúde e prevenção da doença. A amostra estudada foi extraída da população constituída pelos estudantes das licenciaturas em ciências da saúde (I - Medicina Dentária, II - Engenharia Alimentar e Nutrição, III - Educação Física, Saúde e Desporto e, IV - Ciências Farmacêuticas) do Instituto Superior de Ciências da Saúde – Sul. Foi utilizado o questionário "Health and Behaviour Survey", sobre comportamentos de saúde, crenças de saúde e conhecimentos de saúde. A ausência de diferenças significativas entre os comportamentos registados em alunos que frequentam os 1º, 2º, 3º e 4º anos, leva-nos a questionar o processo de transmissão dos conteúdos de saúde face à resistência à mudança protagonizada pelos sujeitos envolvidos, bem como o possível impacto da informação que os sujeitos recebem, na aquisição de comportamentos salutogénicos. Os autores consideram, todavia, que a educação para a saúde não é uma aprendizagem que possa ser imposta, nem se esgota numa mera aquisição de conhecimentos, pelo que defendem a ideia de que o futuro da aprendizagem das ciências da saúde não poderá desenvolver-se sem que, em paralelo com os planos curriculares, sejam criados "programas activos" de promoção e educação para a saúde.

Maternidade na adolescência: Do risco à prevenção

Bárbara Figueiredo

Muito embora a maternidade na adolescência não se traduza numa condição de risco para todas as mães, a verdade é que se constitui sempre num desafio para o qual a maior parte não está preparada.

O fenómeno da maternidade na adolescência pode estar a diminuir, mas mantem- se com valores elevados em muitos países, o que é agravado pelo facto de que tem vindo a aumentar o número de mães adolescentes a viver sózinhas.

Com este artigo, pretendemos favorecer modos de compreensão, de avaliação e de intervenção na maternidade na adolescência, fundamentados nos modelos conceptuais mais recentes: o Modelo Ecológico e a abordagem da Psicopatologia do Desenvolvimento. De acordo com os estudos empíricos disponíveis, serão sucessivamente apresentados os factores de risco e os factores protectores de gravidez na adolescência, no sentido de, no final, podermos delinear estratégias adequadas de prevenção.

Factores de risco clássicos e sócio- -demográficos da doença das artérias coronárias: revisão da literatura

Miguel Trigo, Rui Coelho, Evangelista Casimiro Rocha

A doença coronária é das patologias mais frequentes no nosso País, embora numa posição relativa inferior à de outros países Europeus. Este estudo teve como Objectivo geral caracterizar os principais factores associados à doença coronária, em termos de risco e potencial de prevenção. Quanto à Metodologia, baseou- se na revisão da literatura, sobretudo internacional, no que se refere a conceitos, critérios de diagnóstico, risco de doença das artérias coronárias, mecanismos da doença e estratégias preventivas, de modo preferencial no âmbito da prevenção primária.

Os Resultados são relativos aos factores de risco mais convencionais, quer modificáveis (hipertensão arterial, dislipidémia, tabaco, diabetes, inactividade física, obesidade, nível sócio-económico), quer não modificáveis (menopausa, história familiar, idade, sexo). As evidências científicas são mais fortes para alguns factores, nomeadamente a hipertensão arterial, dislipidémia, tabaco, diabetes e obesidade e, por isso, existem critérios de diagnóstico e níveis de risco melhor definidos que se reflectem nas recomendações ("Guidelines") publicadas.

As Conclusões referem-se à força de associação entre os diversos factores de risco e a doença coronária, à efectividade das medidas preventivas e necessidade de desenvolver e implementar abordagens pluridisciplinares para maximizar o potencial de prevenção. Com efeito, tanto em prevenção primária, para os estilos de vida mais saudáveis, como em prevenção secundária, para o diagnóstico precoce e tratamento farmacológico, há necessidade de melhorar o perfil de comportamento da população e dos doentes.

Powered by eZ Publish™ CMS Open Source Web Content Management. Copyright © 1999-2010 eZ Systems AS (except where otherwise noted). All rights reserved.