Isabel Alexandra Lopes, J. Correia-Pinto, J. Soares-Fortunato
As drogas psicoactivas, designadamente a cocaína, afectam o desenvolvimento do sistema nervoso central quer pela sua acção vasoconstritora, levando a disrupção da embriogénese, quer pela interacção directa com sistemas neurotransmissores, especialmente os sistemas dopaminérgicos, quer ainda pela alteração da regulação génica induzida por essas substâncias. Estas alterações são induzidas com diferente vulnerabilidade consoante as regiões cerebrais, a idade e os tipos de células atingidas.
A cocaína tem elevada afinidade para os transportadores dopaminérgicos, serotoninérgicos e noradrenérgicos tendo efeitos sobre a tirosina hidroxílase e níveis de dopamina e seus metabolitos em diferentes áreas do sistema nervoso central. A dopamina actua em locais específicos dos cinco receptores dopaminérgicos existentes, cujas estruturas e funções só agora começam a ser caracterizadas e que constituem peça importante para a explicação da adicção às drogas de uso ilícito.
Para além de alterações comportamentais bem demonstradas, está hoje assente que a exposição a estas substâncias provoca alterações morfológicas, electrofisiológicas e neuroquímicas. Nos últimos anos tem-se recorrido cada vez mais a técnicas de localização de receptores de dopamina do cérebro em desenvolvimento, particularmente do cérebro fetal. Tais ferramentas têm auxiliado na determinação do padrão ontogénico das vias dopaminérgicas de diferentes áreas do sistema nervoso central que se crê ficar comprometido quando, durante o desenvolvimento, este é exposto à acção de drogas psicoactivas. Este conhecimento é essencial para formular e testar hipóteses sobre os períodos críticos de vulnerabilidade à cocaína.