Volume 6 - Nº 2
- Acerca da identidade sexual como elemento de ligação somato-psíquica
- Uma contribuição para a teoria das transformações de wilfred bion: a transformação psicossomática
- Cocaína factor de risco cardiovascular, embriofetal e comportamental
- A construção do homem no plano simbólico – o lugar da psicoterapia
- Comportamento alimentar bases neuropsíquicas e endócrinas
- Tratamento psicanalítico de pacientes com patologia psicossomática
- Células estaminais no cérebro adulto de mamífero
- "maria sem mãe, maria sem pai; maria dos outros ou de si?" estudo de um caso clínico de depressão
- Do leviatã ao divã: muito mais do que uma rima – ética e psicanálise em foco
- Os contornos bioéticos de um caso clínico de perturbação depressiva major
- Histeria e perturbação conversiva
- Publicações recebidas na redacção
- Reuniões científicas calendário
Comportamento alimentar bases neuropsíquicas e endócrinas
Nuno M. F. Marçal Ferreira, Miguel Guerra, Soares-Fortunato
O comportamento alimentar de um indivíduo é determinante para a sua sobrevivência. A alimentação é um aspecto fundamental da homeostase energética, o processo através do qual a energia armazenada no organismo sob a forma de tecido adiposo é mantida constante ao longo de grandes períodos de tempo. O cérebro desempenha um importante papel na regulação da homeostase energética, e fá-lo principalmente através de três acções fisiológicas: controlo da fome e da saciedade, controlo do consumo de energia, e regulação da secreção de hormonas envolvidas no armazenamento das reservas energéticas. O hipotálamo, o local do SNC mais envolvido no controlo do metabolismo energético, integra uma grande variedade de sinais internos e externos e produz sinais eferentes que promovem as alterações apropriadas do balanço energético. As aferências aos centros cerebrais e respectivas respostas que regulam o balanço energético podem ser divididas em duas categorias: regulação a curto e a longo prazo. Os peptídeos envolvidos na regulação de curto prazo são muitas vezes designados por factores de saciedade uma vez que se originam no decorrer da refeição e levam à interrupção desta. Entre estes está a CCK, que desempenha o papel mais relevante. Os factores envolvidos na regulação a longo prazo têm a seu cargo o controlo de todo o armazenamento de energia e do equilíbrio energético. Pensa-se que a leptina é o factor lipostático com maior relevância no controlo do equilíbrio energético, e fá- -lo através de um sistema de feedback- -negativo com origem no tecido adiposo e que exerce a sua influência a nível de centros hipotlâmicos no SNC. Outros intervenientes são a insulina, o Neuropeptídeo Y (NPY) e o Transcrito Regulado pela Cocaína e Anfetamina (CART). A insulina é uma hormona pancreática produzida pelas células beta, e a sua concentração na circulação é proporcional à glicemia e à massa adiposa. O excesso de insulina estimula a ingestão de alimentos através da aceleração do armazenamento de glicose nos tecidos periféricos, sinalizando um défice de glicose ao cérebro. O NPY está contido numa pequena população de neurónios hipotlâmicos no núcleo arqueado. A partir daqui estes neurónios projectam-se extensamente para outras regiões do hipotálamo. A administração, a nível central, de NPY promove um balanço energético positivo e um aumento do armazenamento de gordura. O CART é expresso em áreas hipotalâmicas consideradas influentes no controlo da ingestão de alimentos. Esta hormona tem a capacidade de reduzir a quantidade de alimento. Este efeito é em parte conseguido através da “downregu-lation” da produção de RNA mensageiros de NPY no núcleo arqueado, e através da “upregulation” da expressão de RNAm de CART. A redundância e a plasticidade parecem ser importantes na homeostase energética. Falta ainda saber se todas estas moléculas representam múltiplos sistemas que se sobrepõem ou se existe uma hierarquia entre eles.
