Segunda-Feira, 14 de Março de 2011
"Quem és tu - Alice no País das Maravilhas?"
Prof. Dra. Luísa Branco Vicente
29 de Março - 21h30
Livraria Ler Devagar – LxFactory
Há livros, e há também memórias, que nos levam a reflectir, que nos desafiam a lançar um “outro” olhar sobre o mundo. A mergulhar numa viagem no nosso imaginário, nos cenários dos nossos desejos não verbalizados e, por vezes, até aí impensados. A aceder a um espaço inesgotável de possibilidades - à liberdade que só o sonho permite.
Partindo do mundo concreto da realidade quotidiana, deixamo-nos invadir pelo fascinante poder da criatividade e da fantasia e, nas asas do sonho, o impossível deixa de ter lugar. Sobrevoamos já o “País das Maravilhas”.
Lewis Carroll, ao criar um universo paralelo, repleto de situações inverosímeis e de criaturas inusitadas, conduz-nos através de um mundo metafórico, carregado de simbolismos e ambivalências, aparentemente desprovido de sentido (nonsense). Por um lado apela à criança, recorrendo a cenários fantásticos que aguçam a sua curiosidade, por outro, as subtilezas linguísticas, os duplos significados recorrentes, a sátira e ironia que transparecem ao longo da história, dirigem-se ao adulto.
Alguns capítulos mais densos, «extravagantes» e simbólicos da obra-prima de Lewis Carroll podem ter colhido a sua inspiração em factos da sua própria vida e contexto familiar durante a idade infantil, uma parte dos quais teria sido traumática. E nesse sentido, os jogos e malabarismos lógicos e linguísticos constantemente propostos às crianças a quem a história da aventura de Alice é contada, pode ser entendida como uma exercitação da fantasia e da inteligência como resistência à prostração depressiva e à abulia.
E penso que foi tudo isso o que me levou a deixar o “aqui e agora”, para revisitar outras dimensões, há muito, muito tempo “esquecidas” …
E a relembrar José Gil quando nos diz: «O que é ver hoje uma imagem de Alice senão multiplicá-la em ecos de inúmeros passados infinitamente passados que em nós ressoam? […] Cada estampa antiga de uma Alice reenvia a mil histórias que mal se ouvem, que se murmuram, formando uma torrente indecifrável de sentido que se perde no tempo» (O Eco Visual. Catálogo da exposição Alice in the Wonderland de Isabel Pavão, 2000).
Luísa Branco Vicente
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